Sinceramente, às vezes, penso que há alguma coisa errada comigo.
Escuto e leio relatos de pessoas que experimentaram Deus de formas que não são as minhas.
Muita gente, como os antigos profetas, têm contatos sobrenaturais; escutam e encontram Deus em os seus Montes Sinais particulares; enxergam visões apocalípticas; são jogados por terra, tremem e se convulsionam da cabeça aos pés, e veem o sobrenatural com frequência.
Não me entenda mal, não sou um cético, creio no sobrenatural, e não duvido da veracidade das experiências de tais pessoas.
A transformação ocorrida em suas vidas e o comprometimento com Deus, revelado em suas atitudes, me asseguram que seus testemunhos são verdadeiros.
O que busco entender não é se suas experiências são autenticas ou não, mas, porque, eu mesmo, no meu anseio de ver, encontrar e experimentar Deus, não o encontro dessa mesma forma mística e sobrenatural.
É verdade que minha esperança está em coisas que não se pode sentir, tocar ou ver. Tenho recebido consolo Daquele que homem nenhum jamais viu ou tocou.
Diferentemente de grande parte dos cristãos, o sagrado se revela a mim de forma comum. Sou tocado por gente, fatos e coisas que para muitos são dessa terra e carnais.
Dias atrás, encontrei Deus quando meu telefone tocou. Do outro lado da linha estava meu filho, Filipe. Ele soluçava tanto que quase não conseguia falar. Até que dominando a emoção me confessou o motivo do seu choro, ele acabara de descobrir que sua esposa está grávida; Filipe vai ser pai.
Para mim, Deus fala, age, faz milagres e está presente muito mais em meu cotidiano do que em momentos de reclusão espiritual.
Deus, ainda hoje, se faz homem, caminha, conversa, consola e habita entre nós.
Deus está mais presente do que a maioria imagina. Ele não é uma entidade que precisa ser invocada, adorada o tempo inteiro, e honrada com palavras de louvor a cada minuto, para fazer-Se presente quando precisamos Dele.
Até os trinta anos Jesus não operou nenhum milagre. Ele apenas viveu a vida como um ser humano qualquer. Relacionou-se com seus vizinhos, comeu, bebeu e usou o banheiro como qualquer mortal. Desfrutou da companhia dos seus parentes, trabalhou na carpintaria de José, fez tarefas corriqueiras como buscar água em um poço ou tirar um pão do forno a lenha para ajudar Maria.
Jesus viveu e experimentou a vida com todas as suas implicações boas e más. Foi homem por inteiro, inclusive durante o seu ministério de milagres.
Pode ser que eu esteja enganado; mas hoje, muitos crentes buscam a santidade de forma tão espiritualizada, que desaprenderam como viver.
Encontra Deus em montes, mas não quando abraça um filho. Enxerga visões espetaculares, mas não vê a dor no rosto da esposa. Canta o desejo de ver e abraçar Deus, mas não é capaz de visitar e abraçar a própria mãe. Afirma estar apaixonado por Deus, mas não consegue continuar apaixonado pela mulher com quem casou. Demonstra fidelidade a Deus, mas não é fiel à igreja e à família.
O problema é que grande parte dos cristãos não entende o que é santidade. E ao perder a compreensão de que o sagrado não está apenas presente no sobrenatural, perde também uma maneira importante de experimentar o sagrado na condição humana.
Dá mais importância à mística do culto do que ao relacionamento com Deus e com o próximo.
Sentir Deus é mais importante do que viver com Deus. Quer ser tocado por Deus sem tocar o irmão que sofre.
Acha que só através do sobrenatural chegará perto de Deus.
Porém, creio que o sobrenatural no natural de manifesta.
Há cura na unção com óleo. O corpo e o sangue de Cristo se fazem presente no pão e no vinho. Um ministro se concretiza pela imposição das mãos.
Muito mais gente é tocada por Deus através de um toque de amor do que através de uma pregação eloquente.
A santidade não me arranca do mundo, mas me faz viver no mundo como um herdeiro do céu.
O anjo apareceu a Maria para que ela desse a luz um menino. Foi através de uma pasta de figos que Isaías foi curado de úlcera. Uma queixada de jumento abateu mil homens nas mãos de Sansão. A pedra de Davi derrubou o gigante. O lodo, que Jesus esfregou nos olhos do cego, despertou-lhe fé para ser curado e ver.
Encontrar Deus é um sentimento que me retira do mundo, mas que, ao mesmo tempo, me faz viver nele com mais profundidade, grandeza, e pujança; eleva-me ao céu, mas me faz amar a vida, consciente de quem sou em Deus e de quem devo ser neste mundo.
A santidade se encontra em nossos risos e lágrimas, me faz sentir-me como um anjo, mas desejar ser um homem de verdade - íntegro e corajoso para tentar ser o melhor que posso.
Tornar-me santo não é tornar-me um ser esquisito e alienado do mundo, mas o homem que fui destinado para ser.
Vir a ser santo e íntegro não é uma experiência que me acontece em um momento de êxtase, é tarefa de uma vida inteira.
Para tornar-me santo, tenho que ser cada vez mais humano; levando em conta, aceitando e valorizando todas as coisas que me constroem – inclusive meus lados sombrios e fatos negativos.
Ser santo, portanto, não significa viver cantando aleluias, não é viver enfurnado em uma igreja com cara triste, não significa separar-me do mundo e tornar-me um chato que enxerga o demônio em todas as coisas, nem viver sempre falando de Deus ou pensando no céu sem parar.
Ser santo, tornar-me santo, é compreender-me e aceitar-me inteiramente como Deus me criou; é servir a Deus com gozo indizível; é desfrutar a vida sem medo; é amar a mim mesmo e as pessoas de igual modo; é ser justo, imparcial, aceitar os erros dos outros sem julgá-los, perdoar com facilidade e entender que tudo o que sou, sou por causa da graça.
Se quero tornar-me inteiramente santo, isso exige que eu tenha a coragem de viver plenamente a vida que Deus colocou em mim.
A santidade não é encontrada na esterilização de quem sou, nem em comportamentos de onde a vida foi proibida.
A santidade não se manifesta para quem elimina a realidade da vida; ela está presente naquele que consegue servir a Deus com alegria apesar das realidades e baixezas da vida.
Santidade não lhe transforma em outra pessoa, antes lhe dá poder para ser sempre mais a pessoa que Deus o criou para ser.
Você está no caminho da santidade não quando se isola do mundo para proteger-se de pecar, mas quando faz do mundo o lugar onde a santidade se manifesta.
Santidade não é reprimir desejos que o próprio Deus colocou em nós, mas usufruí-los sem egoísmo ou maldade.
Santidade é viver na terra, estando em contato com o céu, em comunhão tanto ao Criador como a sua criação.
Ser santo é santificar a vida, meus relacionamentos, meu matrimônio, minhas atitudes, minhas dores e prazeres, e ver que Deus trabalha através de todas as coisas para me fazer melhor e mais feliz.
Jesus afirmou: “Quem permanece em mim e eu nele produz muito fruto” (João 15.5). Logo, santidade é produzir muito fruto aqui e agora, nessa vida, em meio a fatos corriqueiros, enquanto vivo, deixo o outro viver, fazendo a vida melhor, e não rodeado por uma atmosfera misteriosa e transcendente.
O Espírito Santo e a Palavra não têm a função de preparar-me para o céu, mas para ensinar-me e dar-me poder de viver a vida de tal forma que o céu e o Reino de Deus se manifestem na minha vida e através da minha vida para abençoar as pessoas com as quais convivo.
Santidade não é ser perfeito o tempo todo. Não é querer controlar o mal que existe você. Antes, é querer que o mal não resista ao bem que Deus derramou em você.
O mal deve estar controlado e amortecido dentro de você; o mal deve desaparecer, vencido por um desejo irresistível de fazer o bem e agradar a Deus.
DR SILMAR COELHO
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